Resumo
Embora haja uma histórica marginalização do uso da
Imagem na Antropologia e na Sociologia - ao mesmo tempo em que a Fotografia não
utiliza efetivamente as contribuições destas - há defesas sérias de que ambos
lados estão numa área de fronteira e podem se complementar sem perder sua singularidade,
pois trata-se de diferentes meios de apreender uma única realidade (SAMAIN,
1995). Os processos sociais possuem uma teatralidade impregnada no cotidiano,
na Sociologia a visualidade desses processos é inevitável. Embora isso não
torne, por outro lado, tais processos fotografáveis nem coloque a câmera
fotográfica como um meio fiel de reprodução de informações sociológicas e
antropológicas sem limitações. Ainda assim tais ciências podem dialogar com a
fotografia a partir do momento em que seus limites e possibilidades são
clarificados, pois se os métodos visuais não contribuem inteiramente para a
observação o fará para a indagação (MARTINS, 2008). Com observações, tanto a
microssociologia como a Antropologia Visual podem apropriar-se da imagem como
meio, não de se chegar ao real, mas ao menos de contemplar seus quadros
interpretativos e as lógicas do cotidiano. A fotografia não congela um momento,
não mostra o que efetivamente está lá, mas aponta para uma interpretação da
realidade. Ela não é um congelamento, é uma visão, ao mesmo tempo em que o
cotidiano é acumulo de aparentes trivialidades, que tecem episódios maiores das
relações sociais. O presente minicurso visa, portanto, elencar os principais
aspectos da biografia e da abordagem microssociológica de Erving Goffman sobre
os estudos da vida cotidiana utilizando análises e métodos visuais. Por outro
lado busca problematizar a imagem como fonte de pesquisa, capaz de fornecer elementos
para o entendimento das relações da vida cotidiana apontando as especificidades
desse método dentro das Ciências Sociais. A metodologia consiste em aula
expositiva dialogada, análise de imagens, atividade prática com fotografia e a
discussão do documentário “Jean Rouch: subvertendo fronteiras” onde é possível
perceber que o cineasta e antropólogo aponta não com sua teoria, mas com sua
práxis, a possibilidade de diálogo entre a visualidade e a oralidade. Busca-se,
então, a partir do documentário e demais meios, facilitar o entendimento dos
conceitos goffmanianos, relacionando-os aos métodos desde os utilizados por
Malinowski às novas formulações dos métodos visuais.
Palavras chave: Métodos Visuais - Vida Cotidiana –
Erving Goffman –– Microssociologia – Antropologia Visual.
Bibliografia para consulta
MARTINS, José de Souza. A fotografia e a vida
cotidiana: ocultações e revelações. In: Sociologia da fotografia e da imagem.
São Paulo, Contexto, 2008.
De LUCCA, D. . Goffman e as mortes da vida social.
Plural (USP), v. 16, p. 189-194, 2009.
GASTALDO, Édison Gastaldo. Goffman e as relações de
poder na vida cotidiana. Rev. bras. Ci. Soc. [online]. 2008, vol.23, n.68 [cited 2014-08-23], pp. 149-153
NUNES, João Arriscado. Erving Goffman, a Análise de
Quadros e a Sociologia da Vida Quotidiana. Revista crítica de Ciências Sociais,
Coimbra : Jun. 1993 p 33-49
SAMAIN. Etienne. “Ver” e “dizer” na tradição
etnográfica: Bronislaw Malinowski e a fotografia”. In: Porto Alegre: Horizontes
Antropológicos, v.1, n.2,
jul./set. Porto Alegre: UFRGS, 1995. p.23-60
GOFFMAN,
Erving. La Ritualización de la feminidad. In: GOFFMAN, Ken (Org.). Los
Momentos y sus Hombres. Barcelona: Península, 1991. p. 135-168